[Esta resenha pode conter spoilers]
"Se você dá uma resposta a um homem, tudo o que ele
ganha é um fato qualquer. Mas, se você lhe der uma pergunta, ele procurará suas
próprias respostas."
Nome oficial: The Wise Mans Fear
Autor: Patrick Rothfuss
Editora: Arqueiro
Sinopse:Quando é aconselhado a abandonar seus estudos na Universidade por um período, por causa de sua rivalidade com um membro da nobreza local, Kvothe é obrigado a tentar a vida em outras paragens. Viaja mais de mil quilômetros buscando um patrocinador para sua música, é envolvido na política da corte, usa suas habilidade de arcanista para impedir envenenamentos e lidera um grupo de mercenários pela floresta, a fim de combater um bando de ladrões perigosos. Ao longo do caminho, tem um encontro fantástico com Feluriana, uma criatura encantada à qual nenhum homem jamais pôde resistir ou sobreviver - até agora. Conhece um guerreiro ademirano que o leva a sua terra, onde vai aprender a lutar como poucos.
Enquanto persiste em sua busca de respostas sobre o Chandriano, o grupo de criaturas demoníacas responsável pela morte de seus pais, Kvothe percebe como a vida pode ser difícil quando um homem se torna uma lenda de seu próprio tempo.
De menino a homem. De homem a herói. De herói a assassino.
Apesar
das 960 infinitas páginas, O Temor do Sábio não foi capaz de tirar a maestria
de Patrick Rothfuss. Não surpreendentemente ele conseguiu conciliar a
trama com o tamanho de sua história, fazendo com que o leitor não se sinta
cheio do livro, pelo contrário, fique feliz por ainda ter muitas páginas pela
frente. Pelo menos essa foi a minha sensação enquanto viajava junto com Kvothe
por lugares jamais explorados e conhecidos d'Os Quatro Cantos.
Mesmo
sendo a apresentação da formação de caráter, consciência e traumas de um herói,
a narrativa não perde as características d'O Nome do Vento. Continua
fluente, engraçada, sutil e descritiva como só ela. Recheada de momentos de
tensão, suspense, risos, idiotices e, principalmente, teimosia e orgulho de
Kvothe.
O livro
é retomado do ponto onde havia parado no primeiro volume. Após um silêncio de
três partes temos Kvothe, Bast e o Cronista na hospedaria continuando narrativa
da vida do protagonista ruivo, que convenhamos está bem mais emocionante nesse
volume. Cheia de sensualidade, música, intrigas e confusão. Principalmente
confusão.
"As coisas são vistas com mais facilidade a partir de abismos. O perigo desperta a mente adormecida. Torna as coisas claras."A começar pela Universidade! As desavenças com Ambrose se intensificam e chegam a níveis não imaginados, as aulas com Elodin ficam cada vez mais confusas,o problema com dinheiro se torna insustentável e, nesse momento, o leitor percebe que nada faria tão bem a Kvothe como dar um tempo da Universidade. Assim ele faz, com o apoio de seus amigos e alguns professores: abandona a Universidade para viver um pouco, ser jovem, procurar um mecenas rico para bancar sua música e descobrir mais informações sobre o Chandriano, uma vez que o desejo de vingança nunca morre.
A
partir daí Rothfuss inicia uma intensa narrativa. Um livro denso e cheio de
informações como este exige muita atenção durante a leitura. A trama foi
bem montada e com excelentes chaves de conexão entre uma parte e outra da
historia, principalmente com os interlúdios. Mas é preciso que o leitor se
lembre de muita coisa do primeiro volume. Pois, como sempre, Patrick foi
deixando as coisas certas sem a devida explicação, conspirando para o leitor
não desgrudar da história.
Acostumados
com o período em que Kvothe se encontra na Universidade nos surpreendemos
bastante quando temos que lidar com o ambiente externo. São muitas personagens
novas, ambientes, lendas e tradições. Lançá-lo ao mundo, deu-nos a oportunidade
de conhecer melhor a fama do jovem Ruh, seu crescimento como pessoa, músico,
poeta, amante, guerreiro e arcanista, e de desfrutar um pouco mais do brilhante
trabalho de descrição que faz do universo do livro uma história a ser analisada
a parte.
A
resenha da Lais, do blog Livros em Série, tem um trecho que
descreve bem essa ambientação totalmente nova : "Eu achei alguns trechos
do livro com um clima de lenda. Quase algo que eu esperaria ouvir no interior,
à beira de uma fogueira ou fogão à lenha, contado por uma vó ou primo mais velho.
E acho que era essa a intenção do autor. Desde o primeiro momento podemos
perceber que, em seu mundo, Kvothe é encarado como um personagem de lendas, de
histórias para crianças, muitos nem acreditam que ele realmente existiu. E
agora, mais do que antes, podemos ver como ele construiu essa fama.
"
"Àquela altura da minha vida eu ganhara um reputação modesta. Não, isso não é totalmente verdadeiro. É melhor eu dizer que havia construído minha reputação."Sua fama apenas aumenta à medida que ele realiza feitos como acabar com dezenas de saqueadores utilizando seus ‘poderes mágicos’, descobrir impostores no reino de Vintas e salvar a vida do Maer, aprender a Lethani - arte secreta de uma tribo cujas tradições são praticamente desconhecidas -, entrar no mundo dos Encantados, dormir com Feluriana e ser o primeiro homem a sair de lá levando a sanidade para casa.
Sexo é
um dos assuntos que mais ressalta o crescimento do protagonista. No segundo
livro d'A Crônica do Matador de Rei foi a constante menção do tema na trama – o
que ainda não havia ocorrido n’O nome do Vento.
O autor
nos introduz ao tema ao narrar o encontro de Kvothe com a Feluriana, no qual,
durante algumas páginas, o assunto e a descoberta dele pelo herói são o
foco principal. Outros momentos de prazer de Kvothe são citados em sua volta a
Vintas e durante sua estada no Ademre, local onde o sexo é visto como algo “público”.
impossível não sorrir com a tentativa do herói
de desvendar o universo feminino apresentado a ele por Feluriana. Entretanto,
uma tentativa sem sucesso...
O
desenvolvimento é uma marca forte deste período da narrativa, todavia, acho que
foi um dos períodos mais cansativos do livro. Foram aproximadamente 50
páginas narrando o encontro dele com a Encantada que, para falar a verdade, não
sei se contribuíram tanto assim para a narrativa. Claro que
aconteceram fatos importantes, como a apresentação do jovem ruivo ao mundo
feminino, mas nesse momento tive a nítida impressão de que Rothfuss estava
enrolando... Em minha opinião, o conteúdo poderia ser melhor resumido.
Em uma
dessas aventuras Kvothe conhece um guerreiro de Ademre, povo conhecido pela
incrível habilidade de lutar. Para livrar o guerreiro da expulsão de seu povo,
o Edena Ruh aprende a lutar, a falar e a se comportar como um
ademriano. É muito interessante ler os trechos em que ele se frustra
com a cultura e costumes dos ademrianos, ainda mais porque estavamos
acostumados com ele se sobressaindo em tudo que fazia e todos os lugares por
onde passava.
Apesar
de todo o sucesso no universo feminino o Kvothe
continua apaixonado por Denna. O rromance entre eles continua, sempre
prometendo levar a algo mais, assim como no primeiro livro da série, mas não se
desenvolve como o esperado pelos fãs.
Durante grande parte da história o casal 'enamorado' fica
somente nas conversas sugestivas e em intrigas juvenis, não dando espaço a mais
nada entre eles. Porém, em O Temor do Sábio, Kvothe começa a desconfiar da vida
e das atitudes de Denna, fazendo com que dúvidas surjam na cabeça do jovem Ruh,
e do leitor, sobre o que realmente está por trás do romance.
Uma menina que sabe
demais? Uma prostituta? Viajante? Encantada? Princesa fugitiva? Milhares de
dúvidas surgem quanto à verdadeira identidade da amada do herói. E, não somente
sobre isso. Quem é o misterioso mecenas dela? Porque ela esta sempre fugindo? O
que se esconde por trás de tantos segredos?
"Sim. Tinha defeitos, mas que importará isso para o coração? Amamos o que amamos. A razão não se intromete. De muitas formas, o amor menos sensato será o mais verdadeiro. Qualquer um conseguirá amar uma coisa "porque". É tão fácil como guardar um tostão no bolso. Mas amar alguma coisa "apesar de", conhecer os defeitos e amá-los também, é algo raro e perfeito."
Mais para o final os
‘interlúdios’ se intensificam e começam a moldar o terceiro e último livro da
série, começando a reforçar e deixar ainda mais perguntas e mistérios no ar,
como a identidade de cada personagem. As dúvidas são tantas que chega um ponto
da narrativa em que o verdadeiro questionamento é "quem são essas pessoas?
"
Quem é
Bast? Quem é Denna? Quem é Kote? Quem é o Cronista? Quem é o Chandriano? Não se
sabe, não se tem certeza ou não se quer saber?
O Temor
do Sábio se mostrou um épico livro de fantasia descritiva, unindo contos de um
poderoso mago que acabou com os bandidos, de um grande conquistador que partiu
o coração de Afrodite, de alguém que roubou a lua, de um idiota bárbaro que se
torna um grande guerreiro e de um plebeu que salvou a vida de seu senhor. Um
enredo tão previsível e ao mesmo tempo nada clichê!
Como em
uma lenda...
Antes
de encerrar, devo observar que o período em que este livro se passa é bem menor
que o primeiro. Mesmo com essa quantidade enorme de páginas e informações a
história não passa de dois anos, enquanto no primeiro temos os 16 primeiros da
vida do herói. Supondo que no momento em que Kvothe conta sua história ao
Cronista ele tenha 25 anos (Patrick faz questão de assinalar o quanto ele é
jovem), entende-se que ele terá que fazer o tempo voar no próximo volume.
Isso
sem mencionar o leque de informações e histórias que ficaram sem se resolver...
Eu não sei como o autor fará para amarrar os nós, nem o que Kvothe guardou para
nós, mas estou muito ansiosa pela continuação. Mal posso esperar 2014!
Já leu o livro?
Não? Corra pra ler!
Sim? Então me diz, o que achou do livro? Atendeu suas expectativas? Concorda com a resenha?
Desculpem o tamanho, não resisto a esse livro...
Espero que tenham gostado!
Esta foi escrita por mim e meu amigo Lucas, créditos a ele!
Ótima resenha! Com certeza um dos melhores livros dos ultimos tempos, como são só 3 livros, estou torcendo para que o próximo tenha 2000 paginas hahahaha, muitas coisas precisam ser explicadas, muito mistério!
ResponderExcluirPois é! Concordo que ainda há muita coisa a ser explicada. Duvido que aconteça, mas espero que Rothfuss não nos decepcione
ResponderExcluirGostei bastante da resenha, Juli! Quando você mencionou a contraditória sensação de encarar as infindáveis páginas com alívio em lugar do provável desânimo, creio que tenha definido perfeitamente o livro! Contraditória, cá entre nós, só pra quem não é apreciador da boa leitura hahah...
ResponderExcluirO Rothfuss precisará se superar pra não deixar furos no terceiro volume. Deve estar sendo um desafio enorme concluir a trilogia sem deixar o nível diminuir.
Quanto ao tamanho da resenha, era de se esperar, seguindo a proporção do tijolo que o Patrick escreveu!
Outra coisa que fiquei imaginando: se o terceiro volume conseguir amarrar os nós, como você diz, já será uma proeza... e isso significaria termos uma trilogia excepcional em que o autor se dá o luxo de encerrar a trama com um protagonista de 25 anos hahah... isso traz a possibilidade de surgirem novas aventuras além da crônica do matador do rei.
Oii! Gostei da resenha. Eu também acho que o Rothfuss deixou muita coisa no ar. O cara é mestre mesmo para resolver tantas coisas.Eu li esse livro muito rapidamente e já estou doida para ver o outro!Eu ainda acho que o autor usou alguma coisa para criar a Feluriana, rs ,em compensação eu gosto muito da Denna, acho ela uma personagem muito forte, metade bandida, metade heroína. Enfim, gostei da sua resenha, resumo, contextualizante..ficou muito bom!:0)
ResponderExcluirO livro realmente ficou curto, com muitas coisas em aberto. Sua resenha esta bem completa e muito boa,parabéns. Sinceramente não sou tão fã da serie mais estou motivado para ler o terceiro livro assim que for lançado e que venham respostas!
ResponderExcluirass: Felipe
OLá, desculpe a demorar por da uma passada por aqui. Otima resenha, é um dos melhores livros dos ultimos anos. Preencheu uma lacuna que se fazia necessaria. Sua resenha conseguiu transmitir o que se passar ou que se pode esperar do livro. Parabens.
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