Era a manhã gelada
de um domingo de junho. Depois de muito insistir e choramingar mamãe se rendeu, nos vestiu com
roupas quentes e nos deixou ir, desde que tomássemos cuidado e não nos
demorássemos. Assim, em rumo ao parquinho da esquina fomos nós sozinhas!
Pela primeira vez!
A neblina nos
impedia de ver o final da rua que, para nós, ainda menininhas, parecia imensa. Eu segurei na mão dela e ela reclamou do tempo frio, como sempre, eu
ri. Afinal, era meu preferido. Andamos ao lado do “passeio”, Cecília ainda
tinha medo de ficar sozinha e se perder. Se perder na rua da nossa casa? Quanta bobeira!
Ela começou a se cansar e, eu, impaciente, pedi que ela se
apressasse senão a deixaria para trás.
"Mas o caminho é muito longo!" ela reclamou naquela voz baixinha. Mesmo assim, amedrontada, correu até
mim em poucos segundos.
Finalmente conseguimos alcançar o parque. Areia suja e molhada e brinquedos velhos e quebrados. Mas,
naquele momento, para nós duas, isso não importava. Nada importava. Era apenas eu, ela e o primeiro gostinho de liberdade.
Foram tempos agradáveis aqueles... Sem preocupações, sem brigas, sem escola, sem doenças e
sem responsabilidade... Só nós, a sós.
Disputamos o único balanço e, mesmo tendo ganhado, a deixei ir primeiro, só pra rir das caretas que ela fazia quando eu empurrava muito forte. Deveria ter ficado naquele momento para sempre. O vento
batendo no rosto dela, os cabelos curtos e loiros bagunçados, os lábios roxos
de frio abertos em um enorme sorriso de dentes pequeninos.
É assim que
eu me lembro dela, do jeito que ficava enquanto eu a balançava. Dos gritos de alegria quando a altura era máxima, dos "será que se eu pular agora consigo voar?" cobertos com seu riso solto.
Foi a
ultima vez que a vi rir tão empolgada. Depois daquele dia, nunca mais foi a mesma coisa... Sonhávamos com dias e dias naquele parquinho. Pretendiamos ser melhores amigas pra sempre e quando crescessemos, seriamos fadas que salvariam o mundo de todos os males...
Aposto que Cecilia seria uma fadinha linda. Graciosa. Mas não houve a chance de testar. Minha pequena e medrosa Cecília
não precisou mais do balanço... Se cansou de esperar até crescer e criou asas cedo demais...
Texto escrito por mim em 2010 e editado hoje.