23 março 2013

Ser ou não ser: eis a coisa questão

Tinha um buraco no chão. Chamo de buraco porque não sei ao certo o que era, mas tenho certeza que não era um buraco propriamente dito, não daqueles que a gente costuma encontrar. Assemelhava-se mais a uma mancha, só que não era uma mancha tipo as manchas que costumamos ver, o que me faz duvidar se de fato o era. Talvez fosse uma lasca... Se parecia mesmo com uma lasca, mas tinha bordas que davam noção de profundidade e, pensando bem, não era uma lasca. Jamais teria como ser... Vai ver era um buraco mesmo.

Só que não era fundo. Nem raso. Nem aquilo que o delimitava eram bordas. Havia um jogo de cores e sombras pra iludir, pra fingir ilhas num buraco que não é buraco, tampouco algo substancialmente possível para ter ilhas. Talvez fosse nada, talvez fosse foice, fossa. Mas sendo qualquer coisa nenhuma sei que o era de qualquer perspectiva. Olhando de cima era, de baixo também, dos lados tentava enganar fingindo ser outra, mas não conseguia, no fim continuava sendo. Eram todos; sem ser nenhum igual ao outro.

Que poderia ser então? Um ponto de interrogação num chão supostamente esclarecido; uma dúvida bem colocada entre quatro cerâmicas; uma obra de arte... Quem sabe? Talvez não fosse nada disso afinal. Não cheguei perto o suficiente pra saber se respirava, mas vai ver a coisa tinha vida e saia correndo quando alguém chegava perto, deixando só a marca de que um dia esteve ali. Provavelmente ela tinha histórias pra contar e anseios de ir pra algum lugar longe de toda monotonia. Ou vai ver não tinha vida e mesmo assim corria pra se esconder de mim. Entendo que é compreensível que um ser que não sei o que é tenha medo de seres que acham que sabem o que são.

Mas, se mancha, se lasca, se bicho, se falha ou se obra de arte não importa, porque, independente do que fosse tinha forma de ser e, aposto a própria coisa, que era. Parmênides e sua família que me desculpem, mas o ser era e o não ser também, o buraco que não era buraco poderia ser o que quisesse, era livre! E por isso era um em outro, vários em um só. Só era, do jeito mais indecifrável de ser, uma coisa coisada, sem nome, que, poxa vida, que coisa! Ou talvez não fosse... A propósito, nem sei mais se sei que estava lá. Vai ver nunca estive...

01 março 2013

algodão doce

Boa noite leitores que provavelmente não existem mais..!

Tudo bem? O dia está claro ou nublado por ai? Porque infelizmente aqui nessa cidadezinha tá difícil saber o que anda mais desbotado... Entretanto isso não é motivo para tristeza, não é mesmo?! Afinal, como prometido, aqui estou eu! Sim! De volta outra vez!
E para começar, na tentativa de melhorar o astral de qualquer um, eis que trago para compartilhar com a vossa senhoria um texto alheio às minhas mãos! Dessa vez a vítima é um dos meus autores independentes favoritos. Confesso que temos uma relação platônica muito intensa, li o blog dele inteirinho em alguns dias e fiz questão de procurar facebook, twitter, flickr e et ceteras sociais. Claro que apaixonei... Ficou curioso(a)? Então leia o texto que eu conto mais lá no final.


ALGODÃO DOCE
por Bruno Palma e Silva

Território perigoso é o da, digamos..., massa corpórea feminina. Duvido que haja um homem na face da Terra - tirando-se cabeleireiros, maquiadores e estilistas— que saiba como lidar com um assunto tão delicado.

     É um belo dia de verão e vocês decidem passear no parque. Sol, céu azul, cachorros e crianças de bicicleta. Tudo corre muito bem até que você, na maior ingenuidade, só querendo ser gentil, oferece um algodão doce, ou uma maçã do amor, ou uma Coca, sei lá. Ficamos com o algodão doce, para o exemplo ficar bem dramático. Ela vai sair com algo do tipo:

     — Comecei regime ontem.

     E, pronto, acabou tudo. Você, meu amigo, acaba de armar para si mesmo uma cilada. Das grandes. Das grandes mesmo.