Era uma vez um poema esquecido
sobre um tal menino João
De seu feito imperfeito
cantam os menestréis mil canções
sobre a morte de seus corações
Corações no plural pois os tinha por demais
era um pra amar Ana, outro pra Vitória
um pra guardar rancor
um quarto pra caber os amigos
nenhum espaço pra Glória
De tanto sofrer por infarto
João certa feita se viu exausto
um coração só já sofre demais
quatro por'certo é o puro holocausto
06 dezembro 2013
01 dezembro 2013
A nebulosa história do surpreendente invento do Dr. Angelus - que Deus o tenha!
Já faz um bom tempo desde o acontecido, mas posso me lembrar com bastante clareza da peculiaridade daquele dia. Até hoje correm boatos sobre o incidente na casa do Dr. Angelus - que Deus o tenha! -, mas nenhum se aproxima do que aconteceu de verdade naquela tarde... Eu, bom, eu sei o que aconteceu. Eu estava lá. Eu vi tudo...
Como um mordomo exemplar, cheguei ao serviço a tempo de preparar e servir as torradas crocantes que o Dr. Angelus - que Deus o tenha! - tanto estimava em seu desjejum antes de seguir para o laboratório. Naquela manhã em especial ele negou o café da manhã, disse estar sem fome e comentou qualquer coisa ininteligível sobre uma grande descoberta que poderia mudar o rumo da humanidade antes de sair às pressas. Não me entendam mal, mas o Dr. Angelus - que Deus o tenha! - era um senhor um tanto quanto rechonchudo e tê-lo negando comida, ainda mais suas tão preciosas torradas, só poderia ser um tipo de mau presságio.
Claro que fiquei intrigado com tamanha estranheza, mas sou um mordomo exemplar e não me deixei abalar, afinal, todo mundo tem direito de acordar ansioso com uma possível descoberta que poderia mudar o rumo da humanidade. Repetindo isso até me convencer continuei meu serviço até a hora do almoço, quando pus a mesa sem nem mesmo mensurar o tamanho do problema que me esperava.
23 março 2013
Ser ou não ser: eis a coisa questão
Tinha um buraco no chão. Chamo de
buraco porque não sei ao certo o que era, mas tenho certeza que não era um
buraco propriamente dito, não daqueles que a gente costuma encontrar.
Assemelhava-se mais a uma mancha, só que não era uma mancha tipo as manchas que
costumamos ver, o que me faz duvidar se de fato o era. Talvez fosse uma
lasca... Se parecia mesmo com uma lasca, mas tinha bordas que davam noção de
profundidade e, pensando bem, não era uma lasca. Jamais teria como ser... Vai
ver era um buraco mesmo.
Só que não era fundo. Nem raso.
Nem aquilo que o delimitava eram bordas. Havia um jogo de cores e sombras pra
iludir, pra fingir ilhas num buraco que não é buraco, tampouco algo substancialmente
possível para ter ilhas. Talvez fosse nada, talvez fosse foice, fossa. Mas
sendo qualquer coisa nenhuma sei que o era de qualquer perspectiva. Olhando de
cima era, de baixo também, dos lados tentava enganar fingindo ser outra, mas
não conseguia, no fim continuava sendo. Eram todos; sem ser nenhum igual ao
outro.
Que poderia ser então? Um ponto
de interrogação num chão supostamente esclarecido; uma dúvida bem colocada
entre quatro cerâmicas; uma obra de arte... Quem sabe? Talvez não fosse nada
disso afinal. Não cheguei perto o suficiente pra saber se respirava, mas vai
ver a coisa tinha vida e saia correndo quando alguém chegava perto, deixando só
a marca de que um dia esteve ali. Provavelmente ela tinha histórias pra contar e anseios de ir pra algum lugar longe de toda monotonia. Ou vai ver não tinha vida e mesmo assim
corria pra se esconder de mim. Entendo que é compreensível que um ser que não
sei o que é tenha medo de seres que acham que sabem o que são.
Mas, se mancha, se lasca, se bicho, se
falha ou se obra de arte não importa, porque, independente do que fosse tinha forma de
ser e, aposto a própria coisa, que era. Parmênides e sua família que me desculpem, mas o ser
era e o não ser também, o buraco que não era buraco poderia ser o que quisesse, era livre! E por isso era um em outro, vários em um só. Só era, do jeito mais indecifrável de ser, uma coisa coisada, sem nome, que, poxa vida, que coisa! Ou talvez não fosse...
A propósito, nem sei mais se sei que estava lá. Vai ver nunca estive...
01 março 2013
algodão doce
Boa noite leitores que provavelmente não existem mais..!
Tudo bem? O dia está claro ou nublado por ai? Porque infelizmente aqui nessa cidadezinha tá difícil saber o que anda mais desbotado... Entretanto isso não é motivo para tristeza, não é mesmo?! Afinal, como prometido, aqui estou eu! Sim! De volta outra vez!
E para começar, na tentativa de melhorar o astral de qualquer um, eis que trago para compartilhar com a vossa senhoria um texto alheio às minhas mãos! Dessa vez a vítima é um dos meus autores independentes favoritos. Confesso que temos uma relação platônica muito intensa, li o blog dele inteirinho em alguns dias e fiz questão de procurar facebook, twitter, flickr e et ceteras sociais. Claro que apaixonei... Ficou curioso(a)? Então leia o texto que eu conto mais lá no final.
ALGODÃO DOCE
por Bruno Palma e Silva
Território perigoso é o da, digamos..., massa corpórea
feminina. Duvido que haja um homem na face da Terra - tirando-se cabeleireiros,
maquiadores e estilistas— que saiba como lidar com um assunto tão delicado.
É um belo dia de
verão e vocês decidem passear no parque. Sol, céu azul, cachorros e crianças de
bicicleta. Tudo corre muito bem até que você, na maior ingenuidade, só querendo
ser gentil, oferece um algodão doce, ou uma maçã do amor, ou uma Coca, sei lá.
Ficamos com o algodão doce, para o exemplo ficar bem dramático. Ela vai sair
com algo do tipo:
— Comecei regime
ontem.
E, pronto, acabou
tudo. Você, meu amigo, acaba de armar para si mesmo uma cilada. Das grandes.
Das grandes mesmo.
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