01 outubro 2012

[Resenha] As Vantagens de Ser Invisível

“Eu acho que somos quem somos por várias razões. E talvez nunca conheçamos a maior parte delas.”


Nome oficial: The Perks of Being a Wallflower

Autor: Stephen Chbosky
Editora: Rocco (Brasil) e MTV (EUA)
Sinopse: Cartas mais íntimas que um diário, estranhamente únicas, hilárias e devastadoras - são apenas através delas que Charlie compartilha todo o seu mundinho com o leitor. Enveredando pelo universo dos primeiros encontros, dramas familiares, novos amigos, sexo, drogas e daquela música perfeita que nos faz sentir infinito, o roteirista Stephen Chbosky lança luz sobre o amadurecimento no ambiente da escola, um local por vezes opressor e sinônimo de ameaça. Uma leitura que deixa visível os problemas e crises próprios da juventude.



Intenso, surpreendente, inspirador, atordoante, infinito.
Eu não quero que você leia esse livro.

Na verdade, eu queria que todos os exemplares fossem queimados pra somente eu ter experimentado a maravilhosa sensação de ler As Vantagens de Ser Invisível. Mas para isto eu teria que provocar amnésia naqueles já leram e, daria muito trabalho. Além disso, minha mãe me ensinou que ser egoísta é feio, então, apresentar-lhes-ei meu mais novo livro preferido e Charlie: o menino que vê.

Charlie não é como a maioria que simplesmente enxerga o que acontece, ele percebe o que está se passando. Ele desentende o mundo, de uma maneira bastante peculiar, ingênua e honesta. Ele é o "wallflower" que dá título ao livro, uma expressão em inglês que se refere a uma pessoa pouco popular, que passa desapercebida pelas coisas que faz, mas que não deixa de ter sua significância. 
“Então, essa é a minha vida. E quero que você saiba que sou feliz e triste ao mesmo tempo, e ainda estou tentando entender como posso ser assim.”
Charlie tem 15 anos e está começando seu ensino médio cheio de medos e expectativas, como qualquer adolescente. Por meio de cartas que escreve a um amigo anônimo e desconhecido acompanhamos ele e suas experiências ao lidar com a vida em seus prazeres e dissabores no decorrer desse primeiro ano escolar. É uma jornada de autodescoberta e amadurecimento, o início da transformação de um menino introvertido com alguns distúrbios mentais em um menino que "participa". Stephen descreve de forma franca a adolescência, sem perder, em nenhum momento, a sutileza.

Esse é um livro sobre sentimentos; não adianta simplesmente ler. Tem que esperar suas palavras serem digeridas, tem que ouvir suas súplicas, tem que buscar sentir toda sensação descrita, tem que imaginar sem julgar, ainda porque as experiências e relações pessoais são o foco do livro. É ao redor de coisas como se apaixonar, transar pela primeira vez, ir a festas, fazer amigos novos, experimentar drogas e se sentir infinito que o livro se desenvolve. Stephen Chbosky trata de temas polêmicos como homossexualidade, gravidez na adolescência, suicídio, pedofilia, estupro dentre outros sem cair nos estereótipos e pré-noções.
“Porque não há problema em sentir as coisas. E ser quem você é.”
À medida que passamos as páginas mergulhamos no universo de descobertas, crises e indecisões de Charlie. É inevitável sentir raiva, chorar, rir, ter vontade de entrar na briga e às vezes até de tomar uma atitude. Mesmo tendo me irritado em muitas partes com seu excesso de drama, não posso negar que me apaixonei por Charlie desde a primeira página. Tem um quê de filosófico na forma como os pensamentos e sentimentos dele são expostos, em como ele dá valor às sensações, emoções e pessoas.


Na contracapa do meu exemplar tem um trechinho do Los Angeles Times que, traduzido, diz: “Charlie é um ser humano tão completamente bom e puro (...) que você fica se perguntando como ele saiu da imaginação de um autor adulto ‘comum’”.  Foi exatamente isso que fiquei me questionando enquanto lia... Como o autor conseguiu retratar e expor sua visão de forma tão jovem e tão profunda. 

As vezes terminava uma página e ficava parada absorvendo tudo que tinha acabado de ler e, cada vez mais, me convencia de que o autor tinha posto alguns de meus pensamentos na mesa e copiado.  A forma epistolar do romance só contribui para essa relação próxima do leitor com a história.

Parece que as cartas são endereçadas a você, tornando ainda mais forte o vínculo criado com as personagens. Acho que este é um dos motivos pelos quais chorei durante a leitura. A narrativa não é marcada de eventos tristes, mas de certa forma a tristeza é sentida a partir do momento em que você compreende que sente ou já sentiu tudo aquilo... Afinal, o livro é sobre adolescência e, que atire a primeira pedra, a pessoa cuja juventude tenha/tem sido perfeitamente esclarecida.
"Só queria que Deus, ou meus pais, ou minha irmã, ou alguém me dissesse o que há de errado comigo. Que me dissesse como ser diferente de uma forma que faça sentido. Que fizesse tudo isso passar. E desaparecer. Sei que é errado, porque a responsabilidade é minha, e sei que as coisas pioram antes de melhorarem porque é o que diz meu psiquiatra, mas essa fase pior está grande demais para mim."

Apesar de alguns clichês, o rumo tomado nem sempre é o esperado e as personagens são memoráveis. A forma como Charlie fala e trata sua familia foi uma das coisas mais gostei. A compreensão que ele busca ter para com cada um e o amor gritante na relação entre eles é maravilhoso. 

Não vou me aprofundar nas personagens como faço geralmente, porque fazer isto com ASDSV seria estragar todo o encanto do livro, uma vez que a subjetividade será a mãe da forma como serão entendidos. 

Mesmo assim,vou deixar um trechinho da resenha da Anna, postada no skoob (créditos à ela), que diz tudo sem contar muita coisa: “Como se já não bastasse um protagonista indescritível, tem-se também maravilhosos personagens: a excentricidade de sua família, a graça de Sam, o alto-astral de Patrick, a calma de Bob, os conselhos de Bill; todos os personagens são carismáticos e muito bem construídos, causando ao leitor um sentimento de profunda familiaridade e identidade”.

“Sam batucava com as mãos no volante. Patrick colocou o braço para fora do carro e fazia ondas no ar. E eu fiquei sentado entre os dois. Depois que a música terminou, eu disse uma coisa.
Eu me sinto infinito.”


 Ler este livro é arriscar descobrir um pouco mais sobre suas inseguranças, arriscar embarcar numa viagem, sem possível volta, à terra do autoconhecimento. É fácil se encontrar nas duvidas, nos questionamentos e até nos momentos de estupidez. Não sei se algum livro será capaz de me fazer sentir o que este fez. É como finalmente perceber que não se está sozinho apesar de toda a solidão. 

Queria ser capaz de partilhar essa sensação com vocês, mas esse livro mexeu comigo. E vem mexendo desde então... Devido a este, dentre outros motivos de mesma ordem, sinto muito que a resenha não esteja cheia de informações como de costume. Escrever sobre As Vantagens de Ser Invisível é como contar uma parte muito íntima de quem sou e, ainda não estou preparada para tanto.

Alem disso, quanto mais falo mais limito as possibilidades individuais de compreensão da obra. E isso não é algo que eu esteja inclinada a fazer com uma história de tantas possibilidades. Aconselho que leiam e se deliciem com cada palavra, porque este é, sem dúvidas, um livro único.

"Quando chegamos ao fim do túnel, Sam deu um grito muito divertido, e foi isso. Chegamos ao centro. As luzes nos prédios e todo o resto eram maravilhosos. Sam se sentou e começou a rir. Patrick também riu. Eu comecei a rir. E naquele momento eu seria capaz de jurar que éramos infinitos."


Espero que tenham gostado.


Beijinhos,

Ju


5 comentários:

  1. Juuh, minha linda!
    Resenha linda, você conseguiu colocar em palavras algo que já tentei milhares de vezes e sempre acabo desistindo. Pra mim, escrever uma resenha de The Perks of Being a Wallflower é uma das tarefas mais difíceis que já tentei. Não importa o quanto eu escreva, nunca acho que passou a magia que o livro merece e exige, e acabo por nunca publica-las. E você conseguiu!
    The Perks of Being a Wallflower é aquele livro que você quer abraçar e passar o resto da sua vida ali, quietinha, só agarrada com ele. Você quer esquecer que leu pra poder ler de novo com a mesma ignorância*, inocência, de quem lê pela primeira vez.
    *ignorância no sentido de quem ignora, desconhece algo.
    Você quer que todos leiam, que todos saibam sobre Charlie, mas ao mesmo tempo você quer isso só pra você.
    O jeito como ele vê o mundo, sem distorções, as coisas como elas são, pura e simplesmente. Livre de "pré-conceitos" e julgamentos. Não existem palavas pra explicar.
    Um livro incrível, mas sem volta. Não tem como ler The Perks of Being a Wallflower e continuar a enxergar a vida, o mundo, as pessoas... como antes.

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  2. Julih!
    Acabei de ler o livro (sério, terminei agorinha) e entrei no facebook e vi que você tinhas postado a resenha aqui e vim ler. Não conseguiria achar uma resenha melhor que essa em nenhum lugar.
    Acho que todos nós quando terminamos de ler o livro e até mesmo durante a leitura nos sentimos um pouco infinitos. Adorei o livro!
    E eu também chorei (muito) enquanto lia e as vezes tinha que parar entre uma carta e outra pra absorver o que li.
    Gostei bastante também de como o Charlie trata a família dele e o jeito que ele percebe as coisas. Achei bonito quando a irma disse que o odiava e em resposta ele disse que a amava.
    Também gostei bastante do poema, apesar de ser muito triste.
    Definitivamente é um livro que todos deviam ler.
    beijooos
    Julia C.

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  3. Olááá!
    Adorei a resenha! Esse livro está na minha lista também. Se eu não ganhá-lo, eu mesma vou comprar. Estou louca com ele *______*

    Beijos,
    Emily Swan

    http://livro-apaixonado.blogspot.com.br

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  4. Então, minha digníssima,
    Acabei de terminar o livro! E sério, ele é muito bom. E estou te admirando mais agora que entendi porque fazer uma resenha dele realmente é muito difícil! Haja subjetividade...
    Apesar de eu ter estragado o final do livro pra mim mesmo por ter lido o que não devia, ainda achei surpreendente... E triste :'(
    Mas por mais improvável que pareça, o livro me fez sentir feliz e triste ao mesmo tempo, feliz por ter compartilhado a experiencia com Charlie, porque realmente é essa a sensação, e triste por não poder mais saber de tudo o que ele faz, se vai sofrer, se vai conseguir tudo o que quiser, e esse sentimento duplo me tocou muito...
    E com certeza é um livro que, principalmente para nós, adolescentes desesperados e sensíveis a qualquer alteração no nosso meio, muda a visão de mundo, de tudo, pra melhor.
    Muito obrigado por ter me emprestado o livro, agora eu vejo o quanto ele significa pra que o lê. E é o meu livro favorito agora, pelo menos por enquanto :D

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  5. Oiii ! Agora sim, deu vontade de ler :0) obrigada!

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