17 outubro 2012

Desnecessário

Desnecessário. Adjetivo. É quando você está com fome, vai até a geladeira e ela está vazia. Completamente vazia. Absurdamente vazia. Até a água, que deveria estar gelada, ainda está natural.

Aí você decide ir à venda da esquina. Mas deixou a carteira no quarto, no primeiro andar. Você sobe. Pega a carteira, desce as escadas e vai até a porta. E descobre que as chaves também estavam ano quarto. Aí você sobe. Novamente. Pega as malditas chaves e desce, de novo, as escadas. Quando abre a porta, vê a venda sendo fechada. Você corre. Estoura a sandália, pragueja, mas continua correndo, senão vai ficar com fome. O pé dói, mas a fome é maior. Corre, corre, corre... E chega.

O dono da venda olha pra você e segura a porta no meio do caminho. Você explica que quer comprar pouca coisa, rapidinho. E faz um “draminha”, pra ganhar o cara no papo. Mesmo sendo verdade, o cara não acredita. Você insiste e, quando ele vai fechar a porta, você entra como um raio. Ele grita e te segue. Você continua correndo e ele atrás. A cada curva, você pega pão, ovos, queijo e alguns biscoitos. Na curva final, você agradece, joga o dinheiro e pede pra ele guardar o troco. E ele só quer te dar um soco.

Mas você, apesar da fome, é mais rápido e volta pra casa. No meio do caminho, deixa a outra sandália pelo chão. Quem sabe passa algum saci e ela pode servir. Vamos ser solidários. Você abre a porta e vai à cozinha. Quando você tenta acender o fogo, sua mãe diz que o gás acabou. Você gela. Mas ela diz que tem um botijão reserva no quintal. Você pensa. 13 quilos do quintal até a cozinha, com fome, parecerão 130. Mas é o jeito e pega pesado. Literalmente.

Chegando na cozinha, troca o gás (vamos pular os detalhes, porque todo mundo sabe o saco que é trocar pneu, dinheiro pegado e botijão de gás) e acende o fogo. Prepara os ovos, o queijo, o pão... torrado... Hum... Nham, nham! Não vê a hora de comer!... É quando sua mãe, com aquele olhar de gato de boteco, diz que está tudo tão cheiroso, que quer também. É quando percebe que a comida só dá para uma pessoa.

Aí, você pensa em tudo o que sua mãe fez por você: as noites mal-dormidas (às vezes, nem dormidas), as fraldas trocadas, as jornadas triplas, os sacrifícios... Bom, entrega o prato de comida pra ela. Ela sorri e pergunta se você não vai querer. É quando você sorri também e diz que fez o prato pra ela. Que ela merece. Que a ama (e isso é verdade!). Dá-lhe um beijão, pega o pacote de biscoitos e sobe as escadas para o seu quarto, onde o notebook está ligado no Facebook (rima boba, mas você ri). Então, entre uma e outra mordiscada, escreve uma crônica. Uma crônica de uma fome anunciada (com um novo perdão pelo trocadilho...). E anuncia: o que é mesmo desnecessário?


Texto de Guilherme Ramos, escrito em 04/09/2012
(créditos únicos e exclusivos a ele e aos fatos reais que o inspiraram a escrever este conto.)

E então meus leitores, gostaram? Eu adorei!

Por isso acho que vocês deveriam dar uma passadinha no blog do Guilherme, que a propósito é esse homem simpático da foto ao lado.
Não, não o conheço...
Me deparei com um texto dele por numa de minhas andanças pela internet e decidi que era hora de postar outro conto alheio por aqui, já que os meus não aparecem...

Bom, pra quem quiser, eis o link do Prosopoética.
Espero que tenham se divertido desnecessariamente.

4 comentários:

  1. Olá! Contente por você postar meu conto por aqui! (Mas não deixa de passar pelo meu não, tá??? Rsss...)

    Já estou te seguindo!

    Beijos!

    Gui.

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  2. Ah, pode deixar! Adorei seu blog, estarei sempre por lá.

    Bejos

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  3. Gostei muito da crônica, as vezes quando não é para ser não é mesmo. Mas depois que conseguimos as coisas e ainda vem nossa mãe pedindo não tem como negar.

    http://enfimshakespeare.blogspot.com.br/

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  4. Realmente. Tem coisas que só mãe mesmo...

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