19 novembro 2014

19 de novembro de 2014. 03:45am.

19 de novembro de 2014. 03:45am.

Querida Rua das Margaridas,

Desde que fui embora eu acordo todo dia no mesmo horário. Sempre tomo banho e vou trabalhar sem reclamar. Saio do trabalho, vou pra sala do grupo de teatro e durmo exatamente meia hora antes de correr pro estágio. Saio do estágio e corro novamente, dessa vez para o restaurante, de onde sigo pra sala 204, disposta a passar as próximas três horas ouvindo algum professor falar de qualquer assunto que não me interessa enquanto meu estômago, pesado, reclama de ter que pegar o ônibus pra ir embora. Dou boa noite pros meus pais e durmo até começar tudo de novo.

Não tenho feito (ou cogitado) nada de errado, perigoso ou letal. Meu mundo está tão "certo" que não há nem como refletir acerca do tempo que não sobra pra perceber quão profunda é a mediocridade em que resolvi ancorar o bote. Eu até aceito de cara boa. Juro.

Não leio mais sobre literatura nem me interesso pela vida das pessoas no ônibus ou pela dos meus amigos; não vejo novelas, não vou pra baladas, não bebo, não fumo e não quero estar perto de ninguém, nem das pessoas que me aquecem o coração. Não ouço mais death metal e uso esmalte transparente nas mãos, pra mostrar respeito e polidez. Esses dias inclusive me chamaram de conformada e eu me conformei. É só cansaço com um pouco de desânimo, me deixem viver em paz! Será que não entendem que eu estou em busca de ser alguém, de viver melhor?! Estou seguindo todas as regras...

Tudo bem, confesso que ainda não sei o que fazer da minha vida... Mas ao resto do mundo já digo o que querem ouvir, assim não me deparo com minhas contradições e contenho qualquer faísca das, tão antigamente comuns, rebeliões dentro de mim. Estou em progresso. Já deixei de questionar, de pesquisar, de ter curiosidade, de planejar e, adivinhe! De querer. Não quero nada. Não quero nem sair dessa situação que eu não quero permanecer. Está tudo nos conformes. Estou bem. Juro.

Estou escrevendo, mas não quero mais escrever. Mas não se preocupe, estou sendo responsável. O problema é que parte de fazer a coisa certa é dizer a verdade aos poucos e somente a quem convém. E a única verdade em tudo isso, minha querida, é que, no fim das contas, eu já fui uma pessoa melhor.

Sinto sua falta como lhe faltam os girassóis.

Rua Magnólia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hey, bem vindo (a)! Obrigada por passar por aqui. Fique a vontade para deixar sua opinião, a caixa de comentários é logo ai embaixo e ela não morde... Eu acho...